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  • Foto do escritorNucleo Terreno

A dança acontece no espaço entre o pé e o solo


Tão essenciais quanto as mãos no Butoh, são os pés. Em Treino e(m) poema, Kazuo Ohno diz que "as mãos são feitas para falar com eloquência, como se quisessem expressar nossos sentimentos. Mas os pés não falam tanto quanto as mãos, porque eles ancoram a vida. Será que não é por isso que o butô existe?". Os pés encontrando o chão marcam o tempo e nossas histórias.

Butoh em japonês (舞踏) é formado por dois ideogramas: Bu e Toh. E é possível encontrar diversas interpretações¹, como a seguinte: Bu - 舞 - dança e Toh - 踏 - outra leitura para o verbo fumu, que pode significar pisar. A dança acontece no espaço entre o pé e o solo.

Em minhas experiências com Butoh, o caminhar sempre foi um ponto em comum nos treinamentos. E a essência do caminhar não é apenas a de se transferir pelo espaço e pelo tempo físico, e sim se transformar em e entre diferentes dimensões. Butoh é metamorfose. Embora exista inúmeras maneiras de exercitar o caminhar no solo, a caminhada das cinzas me chama muito atenção por sua similaridade com a "caminhada Nanba".

Este é o mesmo tipo de caminhada também encontrada no Noh e Kabuki, que era um modo tradicional do caminhar japonês. Andar desta maneira nos dá pouco movimento dos braços. O ombro direito está sempre em cima do quadril direito e vice-versa. A caminhada das cinzas, desenvolvida por Tatsumi Hijikata, implica automaticamente neste tipo de caminhada.

Caminhe como se fosse um pilar de cinzas. Qualquer movimento repentino e você se dissipará. Mikami (1991) afirma que a coluna de cinzas está em pé e pronta para desabar. Este estado físico é o estado em que devemos estar no Butoh, um estado de inevitabilidade. Como podemos alterar a percepção de tempo por meio da caminhada? Como criar uma eternidade no presente?

"Ande como os mortos, os feridos, os deficientes e os loucos. (...) Por que você anda com essas caminhadas difíceis? Porque eu não tenho outros "dons" além da minha dança Butoh. Vamos todos dançar juntos no carnaval dos mortos(...)." (Lee, 2010, p. 161, tradução minha).



 

¹Embora a palavra Butoh e seus ideogramas possuam várias interpretações, o Butoh não deve ser reduzido apenas à compreensão de sua etimologia.


Lee, Rhizome. Behind The Mirror: A Butoh Manual For Students. First Edition. 2010. Page 161. Mikami, Kayo, Tatsumi Hijikata: An Analysis of Ankoku Butoh Techniques, 1991, p.91.

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