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Foto do escritorNucleo Terreno

MA: a poética no Vazio


Quando nos deparamos com a palavra "vazio" no ocidente é provável que nós compartilhemos a ideia da definição mais comum encontrada no dicionário: aquilo que não contém nada; desocupado. Entretanto, no Japão há uma palavra em específico para retratar o Vazio. O MA é um vazio, mas não um vazio qualquer, é um vazio com propósito. Ele é importante e possui um significado que se expressa na ausência de algo.

Em Kanji, um dos sistemas de escrita japonês, MA é escrito como 間. Assim como outros ideogramas, ele possui mais de uma leitura possível, podendo ser traduzido como "entre-espaço", "espaço intermediário", "intervalo", entre outras. Para compreender melhor o termo também precisamos nos aprofundar em seu próprio Kanji. O ideograma de MA é composto pela junção de outros dois, a combinação de Portão e Sol: 門 (portão) + 日 (sol) = 間 (MA). A partir daí já é possível começar a imaginar a relação entre esses dois conceitos e a própria ideia de Vazio (OKANO, 2014).

Segundo Okano (2014), o entendimento e a expressão do MA são comuns na cultura japonesa, algo do cotidiano, logo se torna uma tarefa delicada conceituar e compreender o MA para o ocidente. E aqui aproveito para me questionar: devemos conceituar e compreender o MA? Ou simplesmente ele "está lá" e podemos senti-lo?


Esta dualidade pode ser lida e compreendida segundo a pesquisadora, por meio de Aristóteles, quando o mesmo escreve sobre a própria natureza do ser. Ao falar sobre os princípios da identidade e da não contradição, Aristóteles cria um sistema lógico e racional em que não há espaço para a existência de um meio termo, o "espaço-entre" nesta dualidade. Pensando neste espaço intermediário onde o MA habita, o "espaço-entre", Okano (2007) explana que o MA se origina da ideia de um espaço Vazio delimitado por quatro pilastras no qual poderia haver a descida e a aparição do divino. Um lugar da disponibilidade de acontecer, embora ela podendo se concretizar ou não. O MA se torna um Vazio com grande potencialidade para algo acontecer, para o invisível se tornar visível.

Encarar o MA é justamente compreender esse espaço Vazio, que pode parecer um tanto quanto abstrato aos olhares mais céticos, mas de maneira vívida, poética e sensorial. Para Ana Cristina Colla, atriz e pesquisadora do Grupo LUME de Teatro, o Vazio [...] "é a fonte geradora, que surge como possibilidade de saída, por onde vazam as energias diversas, musculares, sensoriais, físicas, psíquicas". Okano (2014) também reforça a potência do MA neste lugar "intermediário" exemplificando o tempo da não-ação de uma dança, o silêncio entre uma nota e outra, os espaços que habitam o entre interno e externo, o divino e o profano, passado e presente, a vida e a morte.


 

OKANO, Michiko. MA: ENTRE-ESPAÇO DA COMUNICAÇÃO DO JAPÃO: Um estudo acerca dos diálogos entre oriente e ocidente. 2007. 180 f. Tese (Doutorado) - Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2007. p. 1- 45.


OKANO, Michiko. Ma - a estética do "entre". Revista USP, n. 100, p. 150-164, 18 fev. 2014.

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